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Sinopse

Cem Anos de Solidão foi escrito na década de 60, publicado pela primeira vez em 1967 e considerado um marco da literatura latino-americana. No estilo de realismo fantástico, Cem Anos de Solidão é um pesado volume, com mais de 350 páginas, que cativou milhões de leitores e ainda atrai milhares de fãs à literatura constante de Gabriel García Márquez. Quinze anos após sua publicação, em 1982, Márquez ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Toda a narrativa se passa na fictícia cidade colombiana de Macondo, que se parece muito com Aracataca, cidade onde o autor nasceu.

O livro mostra a trajectória da família Buendía, desde a fundação de Macondo até a sexta geração.

Muitos falam da necessidade de se ler Cem anos de solidão com um caderninho do lado, para se traçar a árvore genealógica da família Buendía e compreender a teia de personagens que vai sendo criada à medida que os anos avançam. Não é verdade: a real essência está em ver a história além de seus personagens e entender o círculo que se fecha ante às previsões de um fim anunciado. Afinal, há diversos elementos que se entrelaçam formando um conjunto bastante interessante, pois, como disse Pablo Neruda, "este é o melhor livro escrito em castelhano deste Quixote".

Críticas ao livro " Cem Anos de Solidão "

Fonte: Íris Kussler Sávio e Kelly Martins Peres

INTRODUÇÃO
 
“Cem Anos de Solidão” é a obra mais famosa do colombiano Gabriel García Márquez ganhador, em 1982, do Prêmio Nobel de Literatura. Escrita na década de 1960 e publicada em 1967, esta narrativa do gênero Realismo Fantástico conta a história dos Buendía, fundadores da mítica cidade de Macondo, condenados a “cem anos de solidão”.

Além da obra ser uma metáfora do isolamento e da esperança da América Latina, traduz-se ao longo da narrativa e, mais especificamente, na passagem “o coronel Aureliano Buendía promoveu 32 revoluções armadas e perdeu todas”, uma referência à impotência dos Homens.

A narrativa em questão desse genial autor mescla revoluções, fantasmas, incesto, corrupção, loucura e inúmeros elementos maravilhosos (como a personagem Remédios, a Bela, que viveu uma experiência transcendental da qual nunca mais voltou) com uma naturalidade que a torna quase verossímel.

Tamanha é a quantidade de ramificações que dão força à sensação de repetição e de catástrofe com que a narrativa está comprometida e que fluem a partir da história central que são encontradas árvores genealógicas dos Buendía para que os leitores não se percam nessa fantástica saga.

Dentre os inúmeros elementos fantásticos contidos na obra em questão, a análise a seguir enfatiza o aspecto temporal da narrativa.


SOBRE CEM ANOS DE SOLIDÃO

A obra “Cem Anos de Solidão” conta a saga da família Buendía, desde a fundação da cidade de Macondo até a sexta geração, quando a linhagem é encerrada. Essa narrativa é do gênero Realismo Fantástico e trabalha com elementos simbólicos, elementos estruturais do pensamento de uma sociedade arcaica, como o conformismo e imobilismo social e o modo de percepção do tempo. O tempo é mítico, ou seja, fora do tempo e do espaço dos homens, e entre outros fatores conta com elementos arquetípicos e alegóricos.

José Arcádio Buendía e sua esposa Úrsula Iguarán são os fundadores da cidade de Macondo. Em razão disso, eles tomam sentido arquetípico, pois a partir daí eles se tornam referências tanto para as famílias que os acompanharam ao local onde foi fundada a cidade, quanto para sua própria família. São eles os geradores do primeiro ser humano a nascer na cidade de Macondo e é a partir deles que tudo começa.

A cidade de Macondo é constituída por uma civilização arcaica, primitiva, pois os homens se defendem da História, dos acontecimentos passados, abolindo-os através da regeneração periódica do tempo. Um exemplo disso é a reação das pessoas com os fatos corridos. A própria personagem Úrsula, apesar da intensa seqüência de tragédias e fatos fantásticos que ocorriam em clã, permanecia plácida e passiva, apenas repetindo que “o mundo dá voltas”.


MITO DO ETERNO RETORNO

A expressão “o mundo dá voltas” alude ao tempo em que se passa a narrativa, que é o tempo mítico, o qual Mircea Eliade [O MITO DO ETERNO RETORNO] define como tempo que “transcende o tempo concreto”, ou seja, tudo ocorre ciclicamente e a trama é toda na base de acontecimentos fantásticos. É o lllud Temporis, o tempo imemorial das origens.

Todas as gerações da família Buendía foram acompanhadas pela personagem Úrsula, que viveu em torno de cento e cinqüenta anos. Essa centenária personagem elucida que as características físicas e psicológicas de sua família estavam associadas aos nomes repetidos: todos os Josés Arcádios eram impulsivos, extrovertidos e trabalhadores, enquanto que os Aurelianos eram pacatos, estudiosos e fechados em seu mundo interior. As sucessivas gerações de homens e mulheres batizadas homonimamente reforçam a sensação de repetição característica do tempo cíclico.

Eliade nos diz que as civilizações arcaicas percebem o tempo como heterogêneo, dividindo-o em linear (profano) e cíclico (sagrado). Há duas concepções para tempo cíclico: o infinito e o limitado. Os pergaminhos de Melquíades (cigano de imensa sabedoria e muito próximo de José Arcádio Buendía) contendo a saga da família Buendía estão escritos em tempo linear, com passado-presente-futuro. Porém a narração, a trama dos fatos, ocorre em tempo cíclico limitado, com as sucessivas repetições dos destinos das seis gerações e a extinção da estirpe ao final do ciclo de cem anos de solidão aos quais foram condenados.

Os pergaminhos foram escritos em tempo linear para fazer entender a passagem do tempo (ou seja, que inevitavelmente está sempre em curso). Esse artifício faz o tempo “correr” durante um determinado período (um ano, por exemplo), mas fantasticamente acaba retornando sempre.

Os manuscritos de Melquíades encontram-se grafados em sânscrito, antiga língua da família indo-européia, clássica da Índia e do Hinduísmo, citada como língua materna do cigano, declarando sua origem indiana. O fato de estar escrito em tal língua é usado na narrativa para ressaltar seu ritmo religioso, sagrado, sublinhando a concepção unidimensional do tempo para a humanidade primitiva, que se protege contra o terror da História, tendo uma condição de impotência diante de dados históricos, uma forma de existência aflitiva.


MITO COSMOGÔNICO

Esses pergaminhos também simbolizam o que Mircea Eliade define como mito cosmogônico (representação da Criação), pois neles está contida a criação da família, a origem de tudo. Os mitos cosmogônicos concentram-se nos textos literários alcançando a ordem do sagrado.

Dentro desse conceito podemos citar as chuvas que perduram por mais de quatro anos (cosmogonia aquática, como o dilúvio bíblico), simbolizando a “purificação” após o caos, o início de um novo ciclo, uma regeneração após o massacre de mais de três mil pessoas na estação ferroviária, massacre esse que simbolizou o caos. Encontramos outros exemplos de caos na narrativa, como as ações corrosivas de insetos, aparições de almas, orgias sexuais e etc.

Ao passo que o mito cosmogônico simboliza o início de um novo ciclo, esse tem seu fim marcado pelo caos, constituindo assim uma rotação cíclica dos estágios do tempo, ficando estabelecida a relação COSMOS x CAOS.

O tempo mítico da narrativa “Cem Anos de Solidão” tem uma característica peculiar quanto à velocidade. A velocidade da narrativa, como afirma Genette [FIGURES III], decorre da interação de fatores de natureza diversa: o tempo da história e a componente discursiva que a modeliza numa sintagmática narrativa.

A peculiaridade da obra em questão deve-se ao caráter pluridimensional do tempo: se passa em três velocidades diferentes. O que demorou cem anos (transcendentes ao tempo concreto) para acontecer na cidade de Macondo, na casa dos Buendía foi concentrado numa surreal coexistência de episódios num mesmo instante, como o narrador elucida quando Aureliano Babilônia, o último vivo da estirpe, decifra os pergaminhos escritos pelo cigano Melquíades. Não é a toa que o segundo nome do último Aureliano é Babilônia: vem do grego Babel e significa “confusão de línguas”, tendo sido ele o único a conseguir decifrar os pergaminhos grafados em sânscrito.

Na cidade o tempo, mesmo sendo mítico, se passa mais próximo ao real por ser uma simples alegoria da América Latina, ocorrendo na amplitude do mundo, longe do centro.

Já na casa dos Buendía os episódios coexistem, como está explícito na epígrafe: “o primeiro da estirpe está amarrado à uma árvore e o último está sendo comido pelas formigas”, tudo escrito em “tempo presente”. Essa coexistência é encontrada na casa, no centro, por dali se originar o clã dos Buendía, o objeto da trama. O tempo mágico se apresenta nessas ações que o homem considera como mais importantes, únicas e sagradas, o que poderíamos chamar de rituais.

Há ainda o quarto de Melquíades na casa dos Buendía, que apresenta uma terceira característica temporal: nele o tempo é suspenso, simplesmente atemporal. Isso ocorre porque sua figura é altamente mítica, e decisiva na narrativa. É segundo suas previsões que tudo ocorre, nos seus pergaminhos é que está a totalidade do fenômeno COSMOS x CAOS.


CONCLUSÃO

Macondo é uma alegoria da América Latina, tanto no que se refere ao aspecto do conformismo e imobilismo social, visto que o homem aceita passiva e alienadamente os fatos ocorridos, como quando a cidade é invadida e devastada pelos americanos mas o povo, apesar de incomodado, mantêm-se inerte aos fatos, quanto à característica de sociedade patriarcal, pois confere a José Arcádio Buendía a idealização e fundação da cidade, além de ter em sua figura admiração e respeito de todos.

Até mesmo o nome “José” é uma referência ao patriarcado, considerando que José é, na narrativa Bíblica, o marido de Maria e pai de criação de Jesus Cristo. Além disso, é a figura masculina que ilustra o início e o fim da linhagem, quando Aureliano Babilônia encontra na epígrafe, já citada nessa análise, que “o primeiro da estirpe está amarrado a uma árvore (José Arcádio Buendía) e o último está sendo comido pelas formigas (filho de Aureliano Babilônia)”.

Cem Anos de Solidão nos remete ao labirinto do Minotauro (onde nasceu o MITO DO ETERNO RETORNO). É como se a família Buendía estivesse presa numa fortaleza, arquitetada por Melquíades, num labirinto de espelhos impossível de escapar, onde todos os caminhos levam ao centro. Cada membro da família tem traçado seu destino por um caminho, saindo de um mesmo princípio e chegando a um mesmo fim, que é o quarto de Melquíades (o centro ), onde se encontram os pergaminhos que contém encerrados em si o início e o fim de tudo.

Fonte: Katiuscia de Sá

Um casamento fugitivo que dera origem a sete gerações da família “Buendía-Iguarán” é o ponta-pé inicial para abordagens viscerais acerca das relações humanas. Um enlace entre primos legítimos, jovens apaixonados que tinham medo de que seus filhos nascessem com um “rabo de porco”, caso mantivessem relações sexuais. Em meio a esse temor, José Arcadio Buendía rapta e casa-se com sua prima Úrsula Iguarán, dão vida a três filhos saudáveis e sem o tal “rabo de porco”.
 
Imagens mágicas e poéticas são traduzidas como representações da condição humana, contendo as angústias, revoltas e esperanças dos moradores da cidade fictícia de “Macondo”.
O romance fantástico-realista começa quando “as coisas não tinham nome” e segue até o período da chegada do telefone. José Arcadio Buendía atravessa pântanos, terras encantadas e perigosas para fundar sua própria cidade e ser feliz com sua recém criada família – surge fora do mapa, a mítica cidadela de “Macondo”, onde vez por outra aportavam ciganos trazendo as novidades, estranhezas inventadas por seu povo e notícias do mundo afora.
 
Um deles – Melquíades, ensina ao patriarca dos Buendía alguns segredos de Alquimia. Os experimentos e invenções dele ficam registrados numa língua estrangeira e dão corpo e vida a um livro velho e inacabado, que no futuro será decifrado por um dos descendentes da sétima geração da família Buendía (um filho bastardo: Aureliano Babilônia). O rapaz virá a receber “aulas” e pistas, diretamente do espectro de Melquíades, para decifrar o enigma contido no acervo. As escrituras contêm a saga de seus antepassados e um segredo profético para a própria linhagem dos Buendía.
 
Uma narrativa romântica e épica fascinante, caracterizada por alguns estudiosos como uma “enciclopédia do imaginário” e também como “realismo fantástico”. A trama é composta por 28 personagens semi-centrais (linhagem da família Buendía), sendo os patriarcas os principais da saga. As demais histórias giram em torno das personagens-protagonistas – José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán, com tamanha importância quanto.
 
A maneira fenomenal de (d)escrever e(re)inventar “Macondo” e as personalidades e situações vividas pelos Buendía é o que mais chama atenção. O escritor colombiano Gabriel García Márquez presenteia leitores do mundo inteiro com o dom de sua imaginação e poder simbólico através da escrita, essa é a genialidade e valor inestimável de Cem Anos de Solidão, que foi considerado, em março de 2007, no IV Congresso Internacional da Língua Espanhola, realizado em Cartagena, como a segunda obra mais importante de toda a literatura hispânica, ficando atrás apenas de Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes.
 
Para penetrar nos segredos contidos em Cem Anos de Solidão, o leitor deverá compreender um pouco sobre a própria história política da Colômbia e do escritor. Gabriel García Márquez utiliza muitas histórias da sua época de infância, contadas pelo seu avô materno (Nicolás Márquez), veterano da “Guerra dos Mil Dias”. Seu avô tinha muitos relatos, fatos… memórias que alimentaram a imaginação do menino Gabriel, que muitos anos depois, ao tornar-se escritor, dissera certa vez: “todo escritor escreve sempre o mesmo livro – o livro de sua própria vida…”. O sobrenome de “Úrsula Iguarán”,  é o sobrenome da mãe de “Gabito” (apelido de García Márquez).
 
Segredos e fatos memoráveis da infância do escritor são descritos em Cem Anos de Solidão, histórias incríveis narradas de maneira tão sobrenatural com toques de verossimilhança, que o leitor se pega construindo visualmente cenas como borboletas amarelas seguindo os passos de um rapaz por onde quer que ele vá;  a epidemia de “perda de memória”, em decorrência da insônia coletiva que assola os moradores de “Macondo” durante muito tempo; o desaparecimento a olhos vitos de uma moça (“Remédios, a Bela”), que à frente dos seus simplesmente “ascende” aos céus devido uma experiência transcendental… e por aí vai.
 
O importante na obra é observar como García Márquez coloca as personagens dentro do contexto sociocultural da Colômbia, os personagens carregam pequenas críticas sobre o comportamento social ao longo da história do País latino. Esse aspecto aparece tão sutilmente mascarado pela maneira de escrever, que pouco (ou nada) se percebe. A personalidade da protagonista – a matrona “Úrsula Buendía”, uma mulher forte dos pensamentos e de força física, cuida do lar e da prole com tamanha dedicação e paciência, enquanto o marido largava-se em uma consumida “atividade febril dos nervos” em torno de seus experimentos alucinantes… A mulher da casa e as crianças esqueciam-se a cuidar da horta, cultivando a matéria-prima para o preparo dos bolinhos com os quais Úrsula gerava  a renda da família.
 
Comportamentos culturais bastante comuns em núcleos campesinos colombianos dão os aspectos de “realidade” dentro do épico, de modo que na vida de García Márquez, tal aspecto foi presenciado no momento em que sua família deixa a cidade de Aracataca para morar em outro lugar, devido à crise nas plantações de banana, desdobramento que afetara a economia local forçando a migração das pessoas para outras possibilidades. A migração é um fator bastante explorado no livro através das atitudes das personagens (os moradores de “Macondo” chegavam de outros lugares para se estabelecerem na cidadela em busca de melhores condições de vida, como aconteceu com a família de “Remédios”, por exemplo).
 
A intrigante abordagem de fatos sociais globais, ora de maneira bizarra, ora envolvidos por uma aura mágica embebida de místérios e fascínios próprios das lendas e costumes dos iíndos colombianos, gerou essa linha compreendida como “realismo fantástico”, introduzida na América Latina por Gabriel García Márquez a partir da publicação de Cem Anos de Solidão (maio de 1967).
 
A trajetória literária do escritor sofreu forte  influência de Metamorfose, de Franz Kafka e das Mil e Uma Noites (uma coleção de contos orientais compilados provavelmente entre os séculos XIII e XVI, obra clássica da literatura persa). Cem Anos de Solidão é leitura obrigatória a todo cidadão do mundo. Cheia de fascínio, magia e alusão à realidade, o livro nos remete a nossas próprias fantasias e memórias de infância.

Comentários


A mostrar os últimos 20 comentários:

Geraldo Schostak , 06/05/2020 14:30

Eu já li o livro O Amor em Tempo de Cólera de Gabriel Garcia Marques e estou querendo ler agora Cem Anos de Solidão!

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Geraldo Schostak , 06/05/2020 14:30

Eu já li o livro O Amor em Tempo de Cólera de Gabriel Garcia Marques e estou querendo ler agora Cem Anos de Solidão!

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Farlley Derze , 13/02/2020 20:13

Sugiro ler em três dias.

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Carmen , 21/01/2018 23:53

Livro sensacional, é para ter e reler!

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Monica Cunha , 08/08/2006 19:05

O livro da minha vida.

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