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Sinopse

Longo poema épico e teológico, A Divina Comédia divide-se em três partes: o Inferno, o Purgatório e o Paraíso. Não há uma datação exacta da obra, mas presume-se que tenha sido escrita entre 1304 e 1321, ano da morte de Dante.

A Divina Comédia foi escrita em língua toscana - muito próxima do que hoje se designa por italiano - num registo vulgar, portanto, por oposição ao uso generalizado do latim na escrita erudita. Assim se tornou a obra fundadora da língua italiana moderna.

Em Portugal A Divina Comédia chegou a um universo de leitores alargado através da inexcedível tradução de Vasco Graça Moura. Com mais de seis edições desde a sua primeira publicação, A Divina Comédia conheceu em Portugal um sucesso e uma popularidade extraordinários.

Críticas ao livro " A Divina Comédia "

Fonte: Alexandre Callari

Antes de ir à crítica em si, é melhor alguns avisos. Ao contrário de meus textos de costume, nos quais indico HQs a torto e direito sem medo de que você, leitor, torça o nariz, A Divina Comédia de Dante é diferente. Quero dizer que embora o quadrinho goze de uma alta qualidade, nem todos podem gostar – a começar pelo conteúdo.

Por quê? Pois bem, Dante Alighieri, o poeta autor da Divina Comédia original, entrou para o imaginário popular com sua obra, colocando-se lado a lado com os grandes da literatura mundial, como Virgílio, Milton e até Homero. Porém, a não ser que você seja um apaixonado por poesia, que trabalha na área de Letras, ou seja um maluco como eu, as chances de ler a Comédia completa (e pior ainda, gostar), são mínimas.

Trata-se de uma obra para poucos – ainda mais em tempos nos quais a lei é “informação rápida”! Quem tem tempo de ler um negócio assim?

Bom, minha paixão pela comédia começou nos anos 80, quando a editora Abril publicou um arco de histórias do Ka-Zar na revista do Homem-Aranha, escrito pelo genial Bruce Jones. Na história, o senhor da Terra Selvagem enfrentava uma espécie de Divina Comédia artificial, criada por seu inimigo, o demônio Belasco. Foi a primeira vez que escutei falar da obra e a partir de então, quis saber tudo o possível sobre ela. Li uma versão em prosa na Biblioteca Municipal e alguns anos depois ganhei uma versão do início do século passado de uma amiga, original.

Durante anos eu a li quatro ou cinco vezes, mas nunca passava do Inferno, pois achava Purgatório e Paraíso muito chato. Para quem não entendeu, vai uma resenha básica: Dante Alighieri descreve ele mesmo fazendo uma visita a esses três “reinos”, sendo guiado pelo poeta clássico Virgílio. A obra original escrita em italiano é um primor, inteiramente composta em estrofes tríades (3 versos), em uma alusão à Santíssima Trindade. Foi mais de dez anos depois que eu finalmente li os dois tomos finais da Comédia, e continuei achando chato. Purgatório até é interessante, mas o Paraíso é com certeza um lugar muito entediante para se viver.

Enfim, A Divina Comédia é algo tão complexo, que basta dizer que até hoje ela jamais foi filmada – tamanha a problemática de transpor para as telas a visão maluca e distorcida de Dante.

O que nos traz a esta edição lançada pela Quadrinhos na Cia. O principal problema é justamente dar conta de toda a complexidade, beleza, bizarrice e quaisquer outros adjetivos positivos e negativos que você possa pensar, que a obra original de Dante contém, em apenas poucas páginas. Assim, a graphic novel do estadunidense tenta, em pouco mais de 120 páginas, resumir o inresumível.

E convenhamos, com o tamanho da tarefa que ele tinha diante de si, até que fez um bom trabalho – e isso por dois motivos.

Um, ele resolveu dar uma abordagem “resumão”. Isso significa que há um mínimo de texto, todos os detalhes deixados de fora, com imagens se atendo ao que é essencial. Dificilmente Dante e Virgílio ficam mais do que duas páginas em cada círculo; basicamente os textos explicam o que está acontecendo e é só. Pessoas que conhecem a obra original como eu, podem se sentir lesadas; por outro lado, funciona como um ótimo preâmbulo para quem quer saber o que é a essência da Comédia, sem se dar ao trabalho de ler milhares de versos.

Dois, ele inseriu elementos contemporâneos para mudar o tom da obra. Assim, ao invés de vestir os personagens com roupas da idade média, Dante e Virgílio parecem dois detetives, com sobretudos, chapéus e capotes; Dante, em especial, é quase um Sherlock Holmes, fumando até cachimbo. O caronte cruza o Rio Aqueronte numa lancha, quando as cruzadas são mencionadas vemos exércitos com tanques e soldados, etc. Essa brincadeira que o autor faz deixa o tom da obra mais leve com o acréscimo do humor, sem prejudicar o conteúdo, e representa o principal acerto da HQ.

Por outro lado, em tempos de desenhistas perfeitos, muita gente irá torcer o nariz para a arte, estilizada como em Persépolis e, em várias ocasiões, claramente feita pela mão de um amador. Desculpável. Seymour Chwast, autor da revista, está com 80 anos de idade e apesar de ser uma lenda na área de design e ilustração, jamais havia trabalhado com quadrinhos antes, tendo sido esta sua primeira incursão. Superando-se preconceitos, dá para curtir o resultado.

Outra coisa que o leitor precisa superar são as próprias ideias de Dante, hoje absolutamente retrógadas e até irritantes em alguns momentos, principalmente no que diz respeito às almas condenadas ao Inferno e seus pecados. Portanto, esta é uma HQ que não pode ser lida sem ser contextualizada.

A encadernação segue o mesmo padrão que a Quadrinhos na cia. vem estabelecendo, com capa cartonada e uma impressão campeã, mas sem extras – que poderiam ter sido bem interessantes nesta edição.

A Divina Comédia é um texto que merece ser conhecido, assim como todos os demais clássicos, Paraíso Perdido, Eneida, Ilíada, etc. A compreensão de suas linhas significa compreender o pensamento de uma época, o que inclui seus preconceitos e anseios, sonhos e neuroses, expectativas e falhas – e isso Dante soube representar como poucos. Esta é uma HQ que não tem limite de idade e pode servir como apresentação do universo incrível do poeta tanto a crianças, quanto jovens e adultos. É uma obra pouco convencional que desperta sentimentos adversos no leitor, gera debate e faz pensar. Não é pouca coisa.

Comentários


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