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Poema e Poesia de Fernando Pessoa

Alma
Fernando Pessoa

CRISTO: A sonhar eu venci mundos,

                CRISTO:

 

A sonhar eu venci mundos,

Minha vida um sonho foi.

Cerra teus olhos profundos

Para a verdade que dói.

A Ilusão é mãe da vida:

Fui doido e tido por Deus.

Só a loucura incompreendida

Vai avante para os céus.

 

Cheio de dor e de susto

Toda a vida delirei,

E assim fui ao céu sem custo,

Nem por que lá fui eu sei.

Meu egoísmo e vã preguiça

Um choroso amor gerou;

De ser Deus tive a cobiça,

Vê se sou Deus ou não sou!

 

Como tu eu não fui nada,

E vales mais do que eu;

Nada eu. De alucinada

Minha alma a si se envolveu

Na inconsciência profunda

Que nunca deixa infeliz

Ser de todo — e assim se funda

Uma fé — vê quem o diz.

Assim sou e em meu nome

Inda muitos o serão;

Um Deus — supremo renome,

E doido! — suma abjecção.

 

                CORO DE VOZES MÁSCULAS:

 

Através de ferro e fogo

        Por ti iremos

Ver a pugna. Por teu Nome logo

        Iremos.

No combate, na fogueira,

        Cessaremos

Mortos, mortos.

 

               BUDA:

 

O meu sonho foi incompleto

Por isso eu compreendi

Que sofrer é o nome do trajecto

Que o mundo faz de si a si.

 

                GOETHE:

 

Do fundo da inconsciência

Da alma sobriamente louca

Tirei poesia e ciência

E não pouca.

Maravilha do inconsciente!

Em sonhos sonhos criei

E o mundo atónito sente

Como é belo o que lhe dei.

 

               SHAKESPEARE:

 

E é loucura a inspiração!

 

               VOZES:

 

Só a loucura é que é grande!

E só ela é que é feliz!

 

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